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Autoridades criticam inércia do Gov. Federal no combate à pandemia e atraso na vacinação em evento online da FECAM

Autoridades criticam inércia do Gov. Federal no combate à pandemia e atraso na vacinação em evento online da FECAM

Autoridades criticam inércia do Gov. Federal no combate à pandemia e atraso na vacinação em evento online da FECAM 150 150 Fecam Portal

Para trazer à tona a urgente necessidade de providenciar mais vacinas e acelerar o processo de imunização dos catarinenses, a FECAM reuniu na manhã desta sexta-feira, 26/02, autoridades e representantes de instituições da área da Saúde no seminário online Vacina para Todos e Grupos Prioritários.

Entre as manifestações apresentadas durante o debate conduzido pelo Especialista em Saúde Pública e Consultor de Saúde da FECAM, Dr. Jailson Lima, estiveram a preocupação com grupos prioritários, o negacionismo à ciência, a inércia do Governo Federal durante todo o período da pandemia, o cenário de colapso no sistema de saúde catarinense e a cobrança por medidas mais rígidas para frear a curva de contaminação no Estado. Também participaram do evento a Diretora Executiva da FECAM, Sisi Blind, e o Assessor da Presidência, Rodrigo Fachini.

Confira as principais falas dos participantes do evento (disponível na íntegra em https://www.youtube.com/watch?v=RQnXrDedQKE):

CLENILTON PEREIRA – Pres. da FECAM e Prefeito de Araquari

Nós vivemos a maior crise de saúde da história e o nosso papel enquanto FECAM é articular no que for preciso pelos nossos munícipes. Nós já estamos em vias da compra da vacina Sputinik, pedimos até 2 milhões de vacinas, estamos fazendo um levantamento de todas as cidades do Estado. Há algumas semanas assinamos um protocolo com a Câmara Brasil-Rússia que permitiu que tivéssemos esse canal direto com eles: num primeiro momento o preço da vacina Sputinik estava a $ 17, mas conseguimos baixar o preço para $ 9,75. Estamos tentando garantir uma vacina barata e, o mais importante, com bastante transparência, concretizando as compras apenas após a chegada dos lotes no Brasil e após a aprovação da ANVISA.

 

DR. VICENTE CAROPRESO – Deputado Estadual, integrante da Comissão de Saúde da ALESC

O momento é de arrojo, de tomada de posições respeitando a ciência para resolver um problema tão grave. Nós defendemos um lockdown por, no mínimo, 15 dias. E nesse período devemos aproveitar para vacinar profissionais de saúde, professores, idosos, com cada prefeito e prefeita identificando quem são os grupos que mais estão morrendo em suas cidades. Gostaríamos que o Governo também investisse em comunicação social de massa, bem como todos da sociedade civil organizada, para fazer com que o cidadão comum faça sua adesão a esse grande movimento de cuidado com a saúde. É hora de os órgãos de controle identificarem também os debochadores, que fazem propaganda enganosa, principalmente contra a vacinação.

 

DR. MANOEL DEL OLMO – MÉDICO, SECRETÁRIO DE SAÚDE DE SÃO BENTO E PRESIDENTE DO COSEMS/SC

As medidas de combate à pandemia em Santa Catarina têm que ser imediatas e não podem ser postergadas sob pena de perdermos familiares, amigos, parentes e a população em geral. Fora a vacina e fora o distanciamento social, tudo que for tentado fazer para impedir a epidemia é enxugar gelo na ponta, não vai adiantar absolutamente nada. O que estamos vendo é uma verdadeira corrida das pessoas pela vacina, pois ela está em falta. De fato o funcionário do frigorífico corre um risco extra no que diz respeito a contaminação, talvez só seja superado pelo funcionário da saúde. Mas, por exemplo, Joinville tinha até ontem 7 mil trabalhadores da saúde da linha de frente por vacinar e apenas 2 mil vacinas chegando. O mesmo se repete com os demais municípios catarinenses. Por mais que o COSEMS/SC seja solidário com qualquer classe que queira ter direito a sua vacinação, nós temos de nos manter fieis ao plano federal e estadual de imunização.

 

SANDRO EDUARDO SARDÁ – PROCURADOR DO TRABALHO

Sou fã integral da democracia, da ação comunicativa, do diálogo e de vacinas. Mas não posso deixar de dizer que se algum país do mundo quiser ter um exemplo no enfrentamento da pandemia, olhe para o caso brasileiro, mas atue no sentido oposto em tudo o que o país fez, ou em quase tudo. E não podemos dizer que nos pegou de surpresa, pois ramos do Ministério Público já vem há um ano alertando para medidas adequadas. O colapso consiste que mesmo havendo recursos financeiros, que a União e o Estado não têm, não teríamos condições de conseguir os insumos que necessitamos. Estamos tratando de danos irreparáveis para vida das pessoas. Nós continuaremos a enfrentar essa profunda tragédia humanitária enquanto não adotarmos medidas sanitárias eficazes. Podemos decretar um lockdown de um ano, mas se não for de qualidade, continuaremos na mesma situação. Se nós fizermos um lockdown de poucos dias, não será efetivo para controle da pandemia. O Brasil não adotou medidas adequadas nos últimos doze meses para combater a pandemia.

 

HERNEUS DE NADAL – TRIBUNAL DE CONTAS DE SC

Não é hora de populismo, de manifestações ideológicas, de contrariar a ciência e nem a democracia. A constituição de 1988 elevou os municípios a condição de entes federados, que podem legislar concorrentemente com a União, Distrito Federal e Estados. O resultado do que estamos vendo hoje poderiam ser muito piores se alguns de nossos municípios não tivessem adotados medidas, como em Xanxerê, para proteger a população local. Eles podem ser extremamente determinados e firmes para contornar essa crise. Qual é a utilidade de um telefonema do Presidente da República para um prefeito que não tem respirador e vacina? O telefonema de um presidente negacionista não resolve coisa alguma para nossa população. Cada um tem sua preferência, escolha partidária, mas agora precisamos de um chefe de estado, de um líder. O que resolve falar com Pazuello, se ele tem uma intervenção direta do presidente da república na sua pasta? Não celebrou um contrato de vacina até hoje. A ideologia, a politização, o receio de adotar no momento exato medidas duras e firmes por conta da perda de popularidade e o negacionismo estão nos levando ao caos e à dor.

 

PEDRO RUIZ – ADVOGADO TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIO,

Há algum impedimento legal para os trabalhadores de frigoríficos serem enquadrados nos grupos prioritários da vacinação? Analisando o reconhecimento do setor frigorífico como essencial desde o início da pandemia, que os trabalhadores seguiram trabalhando, e que agora o Plano Nacional de Imunização os inclui como um dos grupos prioritários, verificamos que não existe nenhum impedimento legal para fazer essa configuração jurídica.

 

DR. ROBERTO RUIZ – MÉDICO DO TRABALHO

Nossa primeira preocupação em escrever um parecer para inclusão dos trabalhadores de frigorífico no grupo prioritário de vacinação é o princípio da legalidade. Não se trata em hipótese alguma de furar fila, se trata de fazer justiça pois os aspectos técnicos mostram que é um ambiente diferenciado da grande parte das indústrias em geral, pois aglomera muita gente: chegamos a ter sala com mais de 1000 pessoas, em ambientes frios e com circulação de ar. E fatores como esses nos fazem concluir que os trabalhadores de frigoríficos devem ser incluídos nos grupos prioritários.

 

CÉLIO ALVES ELIAS – FEDERAÇÃ DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DE CARNES E ALIMENTAÇÃO DE SC

Os trabalhadores de frigoríficos trabalham em condições de aglomeração dentro de uma sala confinada. Eles respiram um ar artificial, com todo o EPI fornecido, ainda assim eles estão dentro de uma geladeira com ar produzido por compressores. As pessoas estão muito próximas uma das outras. Esse é um grito de socorro, para que eles não sejam contaminados. Em 2020, por exemplo, Santa Catarina tinha em torno de 100 mil trabalhadores do setor frigorífico. Desses, ao menos 30% foram contaminados ou tiveram suspeita de contaminação. A salvação é a vacina e é esse nosso apelo, sair do discurso para prática, para agilizar esse processo de vacinação.

 

FABRÍCIO AUGUSTO MENEGON – PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA DA UFSC

Não há dúvidas de que o pleito dos frigoríficos é legítimo, pois foram considerados super espalhadores da COVID-19, ocorreram diversos surtos em Santa Catarina e no Brasil, uma classe trabalhadora que precisa ter um cuidado especial. Mas outras categorias trabalhadoras também deveriam ser priorizadas como agentes penitenciários, a população carcerária, entre outros. O grande risco de pensar em repriorizar categorias é romper com lógicas epidemiológicas que sempre fundamentaram o PNI. Pode romper com o princípio de equidade do SUS, que segue essa lógica para definir grupos como os indígenas, quilombolas como grupos prioritários. O SUS tem hoje mais de 30 mil salas de vacina habilitadas que poderiam vacinar até 10 milhões de pessoas por semana. O problema é a demora, não houve planejamento por parte do Governo Federal. E se a vacina é para todos, que ela seja pública e de responsabilidade do SUS, caso contrário ela não é para todos.

 

OSCAR MARTARELLO – PREFEITO XANXERÊ

Temos vários frigoríficos aqui na região, eu concordo também em incluir esses profissionais como prioridade. Também acho importante cobrarmos atitudes do Governo do Estado, porque um ano atrás, se errou, é compreensível no início de algo não esperado. Mas agora, depois de um ano, não é mais admissível errar. Temos ferramentas para prever e as atitudes têm de ser tomadas de uma forma macro. Nós tomamos várias atitudes, poderíamos estar fazendo enterros em covas coletivas caso elas não tivessem sido fortes, como parar com eventos, vendas de bebidas em postos de gasolina, fechamos igrejas, bares, academias, tudo com fiscalização muito forte. Prefiro fechar um estabelecimento que não cumpra as ordens do que ter hospital fechado por falta de leitos. Chegamos num momento em que tivemos de pedir socorro, mesmo com todas essas medidas. A solução passa por medidas efetivas, a vacina é uma delas mas não da conta de resolver de imediato pois está em falta.